Por : Antonio Fabiano Jr.
A rua é o espaço materializado do coletivo. Ela pode ter infinitas
formas, infinitos jeitos, infinitas vocações mas é sempre isso: uma rua. Lugar
onde move-se o vento, ao som da música de gente, de coisas e de sonhos
coletivos. A rua é arquitetura enquanto movimento e somente da experiência do
lugar podem nascer as exceções que dão forma à ela.
E no meio desse percurso, dessa - ou de qualquer outra – cidade formada
por essa – ou de qualquer outra - rua, descobre-se a chave de um mundo complexo.
Descobre-se a fascinação e o encantamento de mistura de ciências e humanidades,
escultura e pintura, bênçãos e crendices, beleza e feiúra. Descobre-se que o
que parecia feio, num primeiro olhar, na realidade tem uma beleza pura. Pura e
simples beleza. Descobre-se também a beleza de querer fazer uma cidade.
O que está em jogo na luta pela transformação do MIS Campinas em cinema
gratuito para a cidade não é uma simples criação e adequação de espaços físicos
frente à um grande programa dentro de um valor de pertencimento local imenso
que o edifício carrega. Isso seria fácil. Bastam cadeiras, um projetor e
equipamentos de som. A reivindicação aqui é outra. De outra magnitude e de
outro valor social.
O
cinema não tem tempo. Podemos ver o mesmo filme milhares de vezes e em todas
estas vezes ele, enquanto produto, será rigorosamente igual. Mas o ato de
assistir o torna único. A efemeridade que a arte tanto trabalha está nessa
chave. O mesmo filme confrontado com a pessoa - que muda constantemente -, com o
espaço - que muda constantemente - e com as outras milhares de condicionantes –
que mudam constantemente – fazem o ato do cinema ser único. A chave desta luta
está na mudança – do homem e do espaço - para que ele, o homem, entenda e
valorize o espaço.
A
complexidade vivida na luta por um cinema de rua nesse ambiente é experimentada
como uma série de elementos contrapostos formando um amplo espectro de espaços
sociais na paisagem aberta, não só de valor histórico, estético, arquitetônico
e cultural.
Não
é uma luta por mais uma sala de cinema da cidade.
Não
é uma luta por uma revitalização de um edifício de importância história para a
cidade.
É
uma luta pelo direto à rua. À cultura. E ao homem.
Temos
aqui duas chaves: a do valor da cultura e a da experiência da cultura.
Cultura
é inclusão, é uma porta de entrada para que tenhamos uma sociedade mais justa e
mais humana.
Cultura
é experiência. É ato em si. É possibilidade de permitir que pessoas conheçam
novas pessoas, que pessoas se reconheçam em outras pessoas e que pessoas
enxerguem o solo que as sustentam assim como sustentam todas as outras pessoas.
Cultura
é essência e origem.
Cultura
é o cultivo do tempo e do espaço.
Cultura
é rua.
E
rua sempre será o habitat do coletivo.
Crível !!
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